terça-feira, 10 de abril de 2012

Proposta de tradução de "Seeing Things" e "A Shooting Script" de Seamus Heaney


COISAS QUE SE VÊEM

II

Claritas. Palavra em Latim de olhos secos.

Perfeita para a pedra esculpida pela água

Onde Jesus se ergue de joelhos enxutos

E João Baptista derrama mais água

Sobre a sua cabeça, debaixo da luz do sol

Na fachada da catedral. Linhas

Duras e finas e sinuosas representam

O rio que flui. Lá em baixo entre as linhas

Pequenos peixes bizarros em frenesim. Nada mais.

E ainda assim, naquela visibilidade absoluta

O que é invisível dá vida à pedra:

Elódea, grãos de areia agitados com pressa de fugir,

Até a corrente sem sombra, sombria.

Toda a tarde, o calor hesitou nos degraus

Assim como o ar que se levantou até aos nossos olhos, hesitou

Tal como a própria vida, um hieróglifo em zigue-zague.


GUIÃO


Eles fogem daquilo que poderá ter sido

Em direcção ao que nunca será, num plano fixo

Professores de bicicleta, a saudar falantes nativos,

Percorrem os anos dezanove e vinte como se fossem o futuro


Saem pelo final da lente enquanto pedalam

Sem chegar a lado algum e sem fugir

"Linguagem seguida" por um mix de fúcsia

Uma sequência longa, silenciosa. Pan e fade.


Vozes sobrepostas, em diferentes irlandeses.

Discutem trabalhos de tradução e preço por linha;

Como marcos do século dezanove nas orlas do relvado

Ocorrência de nomes como R.M.Ballantyne.


Grande plano de um botão com olhos de gato

Afasto o plano da capa de uma sotaina.

Biretta, colarinho de clérigo, Maçã de Adão

Pausa na sua face em branco. Que os créditos corram.


E quando tudo parece estar terminado-

Planos no encalço de uma longa onda praia fora

Que rebenta na ponta de uma vara que escreve e escreve

Palavras no antigo guião na areia que corre.

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