
COISAS QUE SE VÊEM
II
Claritas. Palavra em Latim de olhos secos.
Perfeita para a pedra esculpida pela água
Onde Jesus se ergue de joelhos enxutos
E João Baptista derrama mais água
Sobre a sua cabeça, debaixo da luz do sol
Na fachada da catedral. Linhas
Duras e finas e sinuosas representam
O rio que flui. Lá em baixo entre as linhas
Pequenos peixes bizarros em frenesim. Nada mais.
E ainda assim, naquela visibilidade absoluta
O que é invisível dá vida à pedra:
Elódea, grãos de areia agitados com pressa de fugir,
Até a corrente sem sombra, sombria.
Toda a tarde, o calor hesitou nos degraus
Assim como o ar que se levantou até aos nossos olhos, hesitou
Tal como a própria vida, um hieróglifo em zigue-zague.
GUIÃO
Eles fogem daquilo que poderá ter sido
Em direcção ao que nunca será, num plano fixo
Professores de bicicleta, a saudar falantes nativos,
Percorrem os anos dezanove e vinte como se fossem o futuro
Saem pelo final da lente enquanto pedalam
Sem chegar a lado algum e sem fugir
"Linguagem seguida" por um mix de fúcsia
Uma sequência longa, silenciosa. Pan e fade.
Vozes sobrepostas, em diferentes irlandeses.
Discutem trabalhos de tradução e preço por linha;
Como marcos do século dezanove nas orlas do relvado
Ocorrência de nomes como R.M.Ballantyne.
Grande plano de um botão com olhos de gato
Afasto o plano da capa de uma sotaina.
Biretta, colarinho de clérigo, Maçã de Adão
Pausa na sua face em branco. Que os créditos corram.
E quando tudo parece estar terminado-
Planos no encalço de uma longa onda praia fora
Que rebenta na ponta de uma vara que escreve e escreve
Palavras no antigo guião na areia que corre.
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