domingo, 8 de abril de 2012

The Holyoke (revisto)

As letras de ferro em relevo,
aquelas palavras timbradas em arco
na velha caldeira no quarto de banho,
The Holyoke,
são os primeiros símbolos que alguma vez desvendei
o meu tio-avô dizendo-me os seus sons,
fazendo esticar o e no The
tal como o assobio de uma chaleira.

A caldeira não funcionava.
aqueciamos a água no fogão
numa tina de cobre, nada de especial,
mas um facto a que me apego
tal como me apego à qualidade da luz
que parecia sempre derramada
sobre o apertado passeio ao longo da casa,
um cinza invernal, gelo antigo, brasa de carvão,
a película sobre o olho do meu tio-avô.

Quando o meu tio-avô morreu
a sua pensão deixou de chegar.
Esses foram os tempos negros.
Pouco depois fiquei curioso.
Abri a porta arqueada
da velha caldeira
e fitei uma serpentina em espiral
engrossada pelo pó.
Passei o lá o dia
no chão do quarto de banho,
medindo o caminho até ao coração da coisa,
revirando tubos,
remexendo peças com um velho cabide.

Quando acabei, enchi a garrafa de petróleo
e acendi o pavio
Descia o crepúsculo, e aquela luz rasa
pendia na janela quadrada.
Quando abri a torneira, caiu água,
Staccato, castanha, quente como carne.

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