segunda-feira, 21 de maio de 2012

Traduções Frank X. Gaspar


Último Hino à Noite

                                                                                  A mais divina melancolia
- Milton
                       
Que a casa durma
Que a cidade continue as suas repercussões irrequietas,
Que as doninhas citadinas assaltem os frutos dos meus limoeiros,
Que o caminho para a minha garagem
reflicta o brilho vulcânico da lua.
Que os mortos falem da única forma que eu compreendo
e que eu escute.
Que eu seja forte
agora que os fracos dormem e se salvam a si próprios,
pois como tu, caminho para além
do amor e da esperança.
Acho que sabes o que quero dizer:
Que haja café, escuro e simples
na caneca azul sobre o tampo da mesa vincado de múltiplos anéis
e o whisky puro no copo de vidro entre
 livros atravancados e pilhas de papéis,
e lápis longos e perigosos, e a máquina
para escrever.
Que gema a relva aparada sob o trilho dos caracóis,
Que o gato dos vizinhos ecoe no telhado, que
o candeeiro arda na minha janela em alerta amarelo de que
que, por vezes
me derramo através de uma fresta na porta
e me encolho nas sombras a amarrar números às estrelas
no céu rombo da cidade.
Que eu me esqueça que haverá um tempo para o meu silêncio
                        Que eu apenas me lembre de como são os jacarandás
Engrinaldados na bruma nocturna, o brilho de sódio
da iluminação da rua ateando-lhes auréolas nos ramos, que
os aquecedores sacudam com o seu leve batimento,
que o tambor distante do frigorifico
cesse subitamente e nos mergulhe no mundo vático:
Que eu me volte na roda e que imite
os pequenos suspiros de enlevo e coragem,
sacudindo a poeira e a aversão do dia,
que eu alcance
a linguagem vacilante do quarto e ache uma pulsação,
que eu preencha a ardósia negra do bairro
com desenhos tipográficos e pés de tipos de letra,
Que por toda a parte a noite esparza preces encantatórias.
Acho que sabes o que quero dizer:
Que os melros chilreiem loucura pelas chaminés.
Que os cães distantes chorem como postes ao vento.
Que o jasmim floresça.



As Primeiras Revelações 


No início há o sopro, dentro e fora, um mundo a entrar 
noutro mundo e a deixá-lo novamente, o cordão de ouro ou 
o cordão de prata – não me recordo qual, mas é algo 
assim – algo que nos faça seguir em frente mesmo quando 
comemos pão rançoso e não conseguimos encontrar um livro que 
nos caiba nas mãos certa noite. É de loucos, este dedilhar nervoso nas teclas, 
tentando fazer qualquer coisa e, no fundo, as palavras não passam 
afinal de varas ou setas e os poemas querem cravar-se 
no coração de alguém apesar do caos que lá há, ou encostar a alma de alguém ao tutano 
de uma árvore para podermos, por fim, 
dizer “alma” sem deixar ninguém nervoso. Esta chuva ultimamente. 
Esta melancolia e a tremenda flagelação das telhas, o chicotear 
das calhas. Fui ao quartel dos bombeiros buscar sacos de areia e ainda assim 
apareceu a água, negra e fraca e com cheiro a gesso. Não é tão mau 
como disseram, mas anjos negros de novo, sentados no meu peito, tão extasiantes, 
mesmo quando me arrastaram para baixo. Nunca se vão embora. 
É como se estivessem na casa deles. Temos de dizer uma coisa quando queremos dizer outra, 
sempre, senão não nos respeitam e eles são perigosos. Isto sou eu 
em Janeiro, a varrer a água da garagem, a abrir as portas 
e janelas para fazer corrente de ar, a deixar as coisas enxugarem. No jardim, 
galhos caídos, baldes de folhas ensopadas. No mar, a corrente 
outra vez morna, 16 graus, a rebentação, quatro metros por vezes na crista da onda, 
a norte, e os jovens e os fortes nos seus jipes enlameados, as suas 
pranchas e fatos de mergulho, a caminho daquele êxtase mais profundo. Bem, 
todos vão embora para algum lado e nenhum dos caminhos é longo. 
Eu, eu cá parto para dentro para ler sobre o regente da terra e do céu, 
As Primeiras Revelações. Quem ama reza sempre, por exemplo. Podemos 
ler isto todo o dia enquanto os raios e os trovões ribombam e depois 
outro dilúvio como pregos a bater nas paredes. Palavras conhecidas numa 
ordem surpreendente, simples e irreconhecível. Ou o espanto vocálico 
das Suras, que estão sempre fora do meu alcance. As imagens 
de água, a filigrana do oásis, o poço, paraíso numa terra seca, 
Alá o Misericordioso, que se não pode abarcar, que não foi concebido e 
que não concebe. Mistérios para os desterrados e que não saem de casa. 
Tijolos em combustão. O dilúvio, indiferente e implacável. A 
muralha de escuridão invernal. Quase conseguimos ouvir os céus a abrir. 

De um modo geral, a principal dificuldade que sentimos na tradução de ambos os poemas – Last Hymn to Night e The Early Relevations – de Frang Gaspar, prendeu-se com a interpetação de alguns versos, cujo sentido foi difícil apreender e que nos fizeram incorrer em alguns erros tradutórios, como por exemplo:

-    Last Hymn to Night: “(…) that sometimes / I will spill through a crack in the door” (linhas 22 e 23) e “Let me turn at the mill (…)” (linha 33);

- The Early Revelations: “Not so bad all told, (…).” (linha 14) “62 degrees, surf, fourteen feet at some of the northern beaks (…).” (linha 22)

Outra dificuldade prendeu-se com o campo lexical, visto que algumas palavras não tinham correspondência em português e outras ofereciam várias alternativas possíveis.

Last Hymn to Night
Divinest melancholy;
- Possums;
 Many-ringed desk;
- Thud;
- Hunch;
- Blunt;
- Sodium glow;
Kick on;
- Vatic world;
- Stems and serifs;
Orisons.

The Early Relevations
The Early Revelations;
- Pecking;
- Clap;
- Gypsum;
Exhilarating;
- Lovers pray continually;
-Vowelic dazzle;
- Fathomed; 

Trabalho de: Sara Cunha e Andreia Caeiro

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