O homem dos trapos abriu a porta enquanto limpava os olhos.
- Ah, ah, ah! - riu-se efusivamente quando olhou para os amigos e viu as trocas e baldrocas que os seus espirros causaram.
- Ão ão! Estás a rir-te do quê? - ladrou a gatinha.
- Miau! Foste tu, tu e os teus espirros horrorosos! - acrescentou o cão.
- Ah, ah, ah! - riu-se novamente o homem dos trapos, para logo de seguida se assoar. - Então-quando-espirro-é-isto-que-acontece!
- O que vai dizer a minha mãe quando lhe contar que fiquei sem tranças? - lamentou-se a menina.
- Todos os meus colegas se vão rir de mim quando me virem de sapato na cabeça! – choramingou o menino.
- Ninguém vai gostar de mim com estas orelhas pequeninas – guinchou o coelhinho.
- Nem de mim com estas orelhas enormes! - ladrou a gatinha.
- Como é que eu vou proteger a casa sem o meu poderoso "ão-ão"? – miou o cão.
- Vou gelar sem as minhas penas! - grasnou o ganso.
- Nenhum galinheiro me vai querer – cantou o galo com cara de poucos amigos.
- Calma, calma – disse o homem dos trapos. – Não se zanguem, meninos. Quando espirro sai uma palavra qualquer disparatada e uma espécie de magia acontece, mas nunca sei que palavra vai sair. Os meus espirros nunca são iguais!
- Então e nós? O que vais fazer connosco? – perguntaram, os amigos, em uníssono.
- Vou tentar espirrar outra vez, mas desta vez como deve ser – disse o homem dos trapos. – E só paro quando sair a palavra certa! Polvilhem o meu nariz com pimenta. Vai ajudar-me a começar.
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As principais dificuldades que senti nesta proposta de tradução foram as seguintes:
(1) “funny-looking friends”, que utiliza a adjectivação do substantivo “look” (aparência/aspeto) para caracterizar a aparência bizarra dos amigos e que transporta consigo uma sonoridade muito própria e que não consegui transportar para o português, língua na qual a mesma palavra raramente desempenha a função de substantivo e adjetivo ao mesmo tempo. Deste modo, optei por alterar a estrutura frásica e aproximar o discurso à língua de chegada, com a introdução da expressão “trocas e baldrocas”, de forma a manter o registo informal do texto e a sonoridade que marca o texto original.
(2) Manter um equilíbrio entre a utilização dos diminutivos, nomeadamente, “menino” e “menina” em vez de “rapazinho” e “rapariguinha”, de modo a não criar um discurso excessivamente marcado pelo diminutivo;
(3) Concordância do registo coloquial e dos diminutivos e aumentativos:
- Ninguém vai gostar de mim com estas orelhas pequeninas – guinchou o coelho.
- Nem de mim com estas orelhas enormes! - ladrou o gato.
(4) “fretted” – pretérito perfeito do verbo “fret”, que significa preocupar-se com algo/estar muito preocupado. Dado o registo coloquial e informal do texto, característico da literatura infantil, e uma vez que nos diálogos anteriores se utilizou as onomatopeias específicas de cada um dos animais, optei por incluir “cantou”, uma das formas possíveis de reproduzir o som de um galo. Uma vez que este género permite também um certo grau de manipulação, optei ainda por acrescentar a expressão idiomática “cara de poucos amigos”, para transmitir a ideia de preocupação que a autora pretende transmitir.
(6) Optei por alterar o conteúdo inicial da frase, de modo a não repetir o verbo “sneeze”. Creio que esta opção não deturpa a intenção do original e confere alguma sonoridade ao texto de chegada.
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