terça-feira, 15 de maio de 2012

Edição da Tradução de "The Seven Sneezes"


Havia uma vez um coelhinho, uma gatinha e um cão que viviam juntos num quintal.

O coelhinho era castanho, com grandes orelhas fofinhas. A gatinha era preta, e como todas as gatinhas tinha umas orelhinhas pequeninas. O cão era um enorme cãozarrão que soltava um poderoso “ão-ão”.

Eram todos felizes, todos contentes. O coelhinho adorava as suas orelhas grandes, a gatinha sentia-se feliz por tê-las pequeninas, e o cão orgulhava-se do seu poderoso “ão-ão”.

Um dia chegou numa velha carroça um homem que fazia negócio com ferro- velho. “Quem tem sucata? Quem tem tralha?” cantava o homem da sucata. O dia estava fresco. O homem da sucata começou a espirrar...

– Quem tem tra...a...a...ah...

O coelhinho, a gatinha e o cão sustiveram todos a respiração até que o homem da carroça terminasse o espirro:

– A... tchim! A... tchum....! A.... tcha-tchão!

Foram três espirros valentes. Tão valentes que o homem da sucata foi lançado num sopro até desaparecer estrada abaixo... com a carroça e o cavalo e tudo!

– Pela minha santinha! – disseram um ao outro o coelhinho, a gatinha e o cão. E depois viram que uma coisa estranha tinha acontecido.

A gatinha preta tinha as orelhas grandes do coelhinho.

E o coelhinho castanho tinha as orelhinhas pequeninas do gatinho.

 – Ora que tolos que vocês parecem – disse o cão.

Mas foi então que também ele se sentiu tolo. Porque, quando abriu a boca, não lhe saiu nenhum poderoso “ão-ão”, e a sua voz era só um débil miau.

– Pela minha santinha digo eu! – exclamou a gatinha.

Mas estas palavras saíram-lhe num terrível e poderoso ão-ão! E até caiu de costas, de tão espantada que estava de se ouvir a ladrar. E foi então que viu as suas orelhinhas pequeninas na cabeça do coelhinho onde deviam estar umas orelhas grandes!

– Dá-me já as minhas orelhas! – ladrou a gatinha.

– Dá-me já as minhas orelhas! – guinchou o coelhinho.

E o cão só sabia correr às voltas, a miar que nem um gato!

O coelhinho ficou com soluços de tão transtornado que estava.

– Foi por causa dos.... hic—hic! ... atchins... que ficámos.... hic––hic!... assim!

– Ão-ão! – ladrou a gata. – Vamos mostrar ao homem da sucata o que os espirros dele fizeram e obriga-lo a pôr as coisas como estavam dantes!

Puseram-se então a caminho em busca do homem da sucata.

Foram andando e logo encontraram uma gansa. Toda ela estava cor-de-rosa e levava todas as suas penas num cestinho.

- Perdão – disseram o coelhinho, a gata e o cão – Mas por acaso não viu um homem da sucata a passar por aqui?

- Não vêem que passou?! – grasnou a gansa, batendo  a sua pata de barbatana. – Espirrou-me as penas todas! E vou à procura dele para obrigá-lo a pôr tudo como estava dantes.

Então lá foram andando todos juntos.

Encontraram logo um galo, que levava a sua crista vermelha no bico e as penas da sua cauda cresciam-lhe na cabeça, onde a crista devia estar.

- Perdão – disseram o coelhinho, a gata, o cão e a gansa cor-de-rosa – Mas por acaso não viu…

- Não digam mais nada – cacarejou o galo, deixando a sua crista cair. – Aquele malvado homem da sucata, sempre a espirrar sarilhos para as pessoas! Vejam só como está a minha bela crista vermelha…cheia de pó! Vou obrigá-lo a pô-la como estava dantes.

 Então lá foram andando todos juntos.

Encontraram logo um menino, que vestia apenas meio casaco e só tinha um sapato. O outro sapato estava virado ao contrário e cima da sua cabeça, como um boné esquisito.

Quando o menino viu os animais e ouviu a gata ladrar e o cão a miar, riu-se tanto que caiu do muro abaixo.

- Também vos espirraram! – exclamou ele . – Ora, não se sintam mal…vejam só o meu belo casaco novo! E o espirro apertou-me tanto o sapato que ele não me sai da cabeça. Puxei e voltei a puxar!

Os animais tentaram ajudar a puxar, mas parecia que o sapato estava espirrado de pedra e cal.

- Vamos procurar o homem da sucata – disse o menino – E obrigá-lo a tirá-lo daqui!

Então lá foram andando todos juntos.

Encontraram logo uma menina no meio da estrada a enrolar os dedos dos pés e a chorar. Tinha nas mãos duas longas tranças cor de caramelo claro. Eram dois belos totós.

Que pena terem sido espirrados da cabeça para fora!

Claro que a menina se pôs a caminho com eles para procurar o homem da sucata.

Passo a passo, os amigos chegaram a uma casa a cair aos bocados.

Lá dentro havia alguém quase, quase a espirrar…

Ah…ah…ah…ah…

Os amigos sustiveram a respiração e esperaram que saísse o espirro.

Saiu…

Catchaia!

O espirro atirou o cavalo e a carroça ao ar!

Aterraram no telhado da casa a cair aos bocados.

- É aqui, de certeza! – gritou o menino. Foram todos a correr bater à porta.


O homem da sucata acenou à porta a enxugar os olhos. Olhou para aquele curioso grupo de amigos.

- Ah! ah! ah! ah! – riu-se.

- Rof! Rof! De que é que te estás a rir? – ladrou a gata.

- Miau! Foste tu, tu e os teus malvados espirros – acrescentou o cão.

- Ah! ah! ah! ah! – riu-se outra vez o homem da sucata, para logo de seguida se assoar. – Então…é assim…que eu espirro!

- O que vai dizer a minha mãe quando lhe disser que fiquei sem tranças? – lamentou-se a menina.

- A escola inteira vai-se rir de mim, quando me virem de sapato na cabeça! – choramingou o menino.

- Ninguém vai gostar de mim com estas orelhas pequeninas – guinchou o coelhinho.

- Nem de mim com estas orelhas enormes! – ladrou a gata.

- Como é que vou guardar a casa sem o meu poderoso ão ão – miou o cão.

- Vou gelar sem as minhas penas – grasnou a gansa.

- Nenhum galinheiro me vai querer – cacarejou o galo com cara de poucos amigos.

- Pronto, pronto – disse o homem da sucata. – Não se zanguem meus caros. Acho que quando espirro me sai uma palavra qualquer esquisita e acontece uma espécie de magia. Mas nunca sei qual a palavra que vai sair, porque nunca espirro duas vezes da mesma maneira.

- Então e nós? O que vais fazer connosco? – perguntaram os amiguinhos em coro.

- Vou tentar espirrar tudo como deve de ser – disse o homem da sucata.

- Portanto, tenho de continuar a espirrar até a palavra certa me sair! Polvilhem-me o nariz com pimenta. Vai ajudar-me a começar.

A menina encontrou a pimenta. – Cá vai – disse ela – com uma sacudidela.

O homem da sucata espirrou, mas só um espirro normal e corriqueiro:

- Chui!

Não aconteceu nada. Nada de nada.

- Mais pimenta, por favor! – disse o homem da sucata – Preciso de me sentir mais espirrador.

A menina tirou a tampa ao pimenteiro. E despejou uma grande quantidade de pimenta no nariz do homem da sucata.

E o homem da sucata fez…

Ahah…ahahum…ahahum…ahahum…ahahum…ahahum…ahahum…

Todos sustiveram a respiração, porque sentiam que algo ia acontecer!

Tchom! Cruzes Canhoto! Chapéus de coco!

E algo aconteceu, sim senhor, mas não aquilo que queriam.

A mobília voou janela fora! A casa levantou-se bem alto! O cavalo e a carroça também. E todos caíram com um catrapum! Num sítio completamente diferente, muito melhor do que antes.

Todos se levantaram para ver se tinham tudo no sítio. Mas não tinham nem um arranhão.

- M…m…ma…ma…mais! - gaguejou o homem da sucata. 

A menina chegou-se à frente. E atirou com todo o pimenteiro ao homem da sucata!

O homem da carroça arregalou-BEM-os olhos!

E abriu-BEM-a boca!

E soltou sete enormes espirros sísmicos!

Catchim!

As orelhas do coelhinho e da gatinha voaram pelos ares! E voltaram a aterrar nos sítios certos… as grandes orelhas do coelhinho e as orelhinhas pretas no gatinho!

Catcham!

O cão saltou pelos ares…e ladrou!

Catchum!

A gatinha miou!

Cactchatchirra!

As penas voaram do cestinho e agarraram-se à gansa outra vez!

Patetchirra!

A crista do galo voou-lhe para a cabeça e as penas da cauda ficaram mesmo no sítio onde devem estar!

Irratchice!

O casaco do menino ficou inteiro num espirro e o sapato voltou no mesmo espirro para o pé!

Irra,chatiche!

Os totós da menina voltaram para a cabeça da menina e de lá não saíram!

Estava tudo de volta ao normal!

- Bolas – disse o homem da sucata, a enxugar os olhos. – Isto é que foi uma trabalheira, mas ainda bem que está tudo na ordem outra vez.

De repente, fez cara de quem ia espirrar. – Fujam! – gritou o homem da sucata. – Fujam todos, enquanto seguro o nariz!

Levantaram-se todos de um pulo e correram para fora do jardim, antes que o homem da sucata conseguisse espirrar outra vez! E foram a correr, a correr até casa!

(Edição de Susana Martins, Telma Ribeiro e Sónia Macedo)

Um comentário:

  1. Gostei imenso do resultado, acho que a tradução ficou equilibrada e chamou-me a atenção o "cruzes canhoto, chapéus de côco"; acho que nunca me lembraria de tal coisa...

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