segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ernestina, a Mulher do Sapateiro


``Tens os olhos dele,`` ela dizia-me,
e depois à minha tia velha, ``São
os olhos que vi!`` E contava novamente
como S. Francisco a raptou
quando ela era jovem. Dominic,

o marido, nunca ficava quieto
quando ela falava daquilo, levantava-se
devagarinho da cadeira Morris, saía,
passando além das filas de couves e milho,
para o curral, para os seus martelos e formas.

``Roubou o fólego debaixo do meu coração,``
disse ela, seus dedos magros contorcidos no peito.
``Nao foi o que pensas, Ele foi um poder,
uma besta. E a chuva caía e ele segurou-me
ali, o meu vestido transparente, pegado ao meu corpo.

Quando eu quis afastar-me e sentar-me
nas ervas acres do quintal dela,
as mulheres deixaram-me ir,
e continuavam a falar atrás das cortinas
que respiravam no ar preguiçoso,

e juntas rezavam o Rosário,
zumbindo os Mistérios. ``Não a enganes,``
a minha mãe avisou. "Ela é bruxa
e pode pôr-te o mau olho.``
``Isso é conversa tonta!`` disse a minha tia.

Sempre ao partir, a minha tia  agarrava-me nos braços,
encostava-se e murmurava,``Lembra-te
que ela só fala dum sonho!`` [segmentation] Mas eu lembrava-me
das marteladas do Dominic, tocando como um sino,
e como ela disse que até as arvores chuvosas estremeciam.

Um comentário:

  1. I would just like to give 3 suggestions:

    On th 13th verse ("Ele foi um poder") - I would suggest you use "Ele era um poder" instead.
    16th verse ("Quando eu quis (...)") - I would suggest you use "Quando eu queria" instead.
    Finally, on the 26th verse "Sempre ao partir" - I could use "Sempre que partíamos"

    Sara Cunha

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