quarta-feira, 15 de setembro de 2021

"Esperança" (Emily Dickinson)


"Esperança" é a coisa com penas
Que se empoleira na alma

E canta um som sem palavras
E nunca, mas nunca, pára,

E mais doce é ouvido no vendaval;
E dura precisa ser a tempestade
Que poderia desanimar o passarinho
Que mantém aquecidos a tantos.

Já o ouvi nas terras mais geladas
E nos mares mais estranhos,
Entretanto nunca, mesmo no desespero,
Ele pediu uma migalha a mim.



Tradução de Luiz Felipe Coelho



A esperança é coisa com plumas
Que pousa na alma,
Entoa melodias sem palavras,
E não se detém por nada,

Ressoando ainda mais doce no vendaval.
Agitada há de ser a tormenta
Capaz de abater o pequeno pássaro
Que mantém aquecidos a muitos.

Tenho-o escutado na terra mais gélida
E no mais estranho mar;
Mas jamais, mesmo no infortúnio,
Arriscou-se a pedir-me uma só migalha.

trad. J. A. Rodrigues

A "Esperança" é a coisa com penas—

Que na alma se empoleira—

E canta uma cantiga sem palavras—

E nunca pára— a vida inteira—

 

E mais doce— na Tormenta— a ouvimos—

E precisava o vento ser sandeu—

Para afligir a Avezinha

Que a tantos aqueceu—

 

Ouvi-a na mais fria terra—

E no mais estranho mar—

Mas nem no Cabo mais Extreme

Me veio uma côdea esmolar.


(Trad. Margarida Vale de Gato)